Microcontos

Selma Vital
1 min readOct 27, 2023
Arquivo pessoal

Namastê

Para manter o equilíbrio, disse a professora de yoga, é só olhar fixamente para um ponto imaginário na parede.

Quantas vezes eu tentei? Braços tão estendidos quanto o olhar. A pose de flamingo, instável, deselegante.

O cordão invisível ligando os olhos à linha do horizonte parecia seguir o movimento do mar, num ondular sem pudor.

De uma equilibrista embriagada em sua própria respiração.

Azarão

Escolheu a carta errada, num baralho só de coringas.

Arco-íris

Trazia as sete cores dentro do cinza dos olhos.

Rugas

Os anos analógicos lhe imprimiram rugas em

3D.

Franzido

Enrugou o canto dos olhos e não enxergou futuro.

Semeadora

De montanha em montanha, ela semeou grão.

Era muito grão para pouca montanha.

Da fumaça

Hoje o céu acordou encoberto por fumaça branca

A fumaça é uma neblina sem poesia.

Vejo da janela que pouca gente sai à rua,

como nos tempos da pandemia.

Um déjà vu de fim de mundo engoliu a cidade inteira.

Criança, cuidai, a gente mora mais perto do fogo do que se pensa.

PS: Se gostou, bata palminhas virtuais! Elas ajudam a que outras pessoas possam ver o texto.

@2023

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Selma Vital

Sou jornalista, professora e leitora apaixonada e sem método. Conheça meu projeto https://claraboiacursos.com/