Microcontos
Namastê
Para manter o equilíbrio, disse a professora de yoga, é só olhar fixamente para um ponto imaginário na parede.
Quantas vezes eu tentei? Braços tão estendidos quanto o olhar. A pose de flamingo, instável, deselegante.
O cordão invisível ligando os olhos à linha do horizonte parecia seguir o movimento do mar, num ondular sem pudor.
De uma equilibrista embriagada em sua própria respiração.
Azarão
Escolheu a carta errada, num baralho só de coringas.
Arco-íris
Trazia as sete cores dentro do cinza dos olhos.
Rugas
Os anos analógicos lhe imprimiram rugas em
3D.
Franzido
Enrugou o canto dos olhos e não enxergou futuro.
Semeadora
De montanha em montanha, ela semeou grão.
Era muito grão para pouca montanha.
Da fumaça
Hoje o céu acordou encoberto por fumaça branca
A fumaça é uma neblina sem poesia.
Vejo da janela que pouca gente sai à rua,
como nos tempos da pandemia.
Um déjà vu de fim de mundo engoliu a cidade inteira.
Criança, cuidai, a gente mora mais perto do fogo do que se pensa.
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@2023