Bambalalão, senhor capitão…

Canções, momentos e palavras bailando na memória

Selma Vital
2 min readOct 24, 2023
Photo by Wallace Chuck/ Pexels

Ouvindo Rondó do Capitão (Bambalalão), com Secos e Molhados, me lembrei de um namorado que tive aos 18 anos. Gostávamos dessa canção. Menino de olhos profundamente castanhos e lábios fininhos; muito bom moço, religioso, protestante. Num tempo em que eu era católica, ou achava que era.

Foi apresentado precocemente à família e, na ocasião, meu avô me confidenciou que conhecia um casal casado em que os pombinhos eram de religiões diferentes, como me dando aval para ir em frente… Por sorte o namorado não ouviu a conspiração do vô. Mesmo assim, o namoro durou pouco. O bastante, porém, para deixar pedacinhos de lembrança como essa cantiga.

Além dessa, lembro dele ou daquele tempo, quando ouço Espanhola, do Flávio Venturini e Guarabyra, e sempre que falo sobre O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway, livro que ele adorou. Lemos a obra com pequeno intervalo. E para descrever o efeito que o livro teve sobre ele, me contou que ao fim da leitura abriu a janela do quarto, tirou a camisa e se deixou sentir o vento frio no corpo. Achei bonito o simbolismo. Mutações, da Liv Ullman, foi outro livro que virou nossa referência, mais por minha causa, por que eu repetia uma das citações: “Existe uma menina dentro de mim que se recusa a morrer”. Também por conta do livro, uma vez ele me escreveu uma carta muito divertida como se estivesse em Oslo, na Noruega, cidade da atriz-escritora, e eu nunca imaginaria que muitos anos mais tarde eu iria morar na Escandinávia.

Nós pensávamos sobre as palavras e acreditávamos que elas eram capazes de abarcar todos os sentimentos do mundo. Será que todo mundo pensa assim aos 18 anos?

As pessoas que cruzam nosso caminho e ocupam determinados papeis vão deixando um rastro, como o cache, nossa lista de atividades no computador. Algumas ficam lá esquecidas e a gente nem se apercebe delas. Outras podem ser acessadas facilmente. Algumas são mais casuais, outras exigem um comprometimento maior da nossa parte.

Digamos que ao longo da vida nossa caixa de entrada, vulgo inbox, de tempos em tempos precisa ser revisitada e é necessário ter critério para jogar fora o que precisa ser eliminado e manter o que merece ser guardado, nem que seja em forma de uma lembrança doce, o que já me parece motivo o bastante.

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Selma Vital

Sou jornalista, professora e leitora apaixonada e sem método. Conheça meu projeto https://claraboiacursos.com/